Pai é Mistério de Deus!
Josimar Salum Gouvea
Olhava para o céu estrelado e todo o mistério da paternidade se manifestava diante dos meus olhos. Falavam-se do mistério de ser mãe e não mais que isso. Eu pensava quão maravilhoso devia ser pai.
Todos os dias esperávamos sua volta e sonhávamos com o reencontro. Ele ia porque tinha uma família para dar suporte. Era âncora e porto. Segurança. Provisão e sustento.
Lembro-me de seus pães de sal, assados na padaria do “Seu Josias”, genro do “Seu Jamil”, do pão tatu, das rosquinhas de sal, e do cheiro da fornada, que até hoje enche minha boca de água. Como você deve estar experimentando agora. Meu pai, filho do agricultor Domingos Carneiro, era padeiro quando eu vim ao mundo, e alimentava uma cidadezinha inteira, não só de pão francês, mas do Pão da Vida.
Nas corridas em frente à casa para escândalo dos vizinhos, eu e meu irmão corríamos atrás dele para toca-lo. Ele amava brincar de pique. Ele se contorcia a nossa frente e ríamos “desesperados” cheios de esperança e alegria. E o tempo passava tão depressa. Queríamos aquilo todos os dias.
Para uma caçada ao final da tarde fechava seu comércio e íamos para a mata próxima. Atirador exímio uma vez acertou uma rolinha, que maldade, e ficamos a procurar onde tinha caído. Estava ali aos meus pés um vestidinho de penas marrons. Hoje! Crueldade! Naqueles dias de criança, fascínio. E aprendíamos a respeitar a vida e as pessoas como ele, em dignidade, serviço e bem prestativos. Nosso pequeno Cisneiros era cheio de Paz e Harmonia.
Suas exigências rigorosas, era bravo como meu avô, seu pai, disciplina intensa, dura muitas vezes, educava um menino que recusava a deixar de pensar e pensava comigo muitas vezes, na obrigatoriedade de assistir às aulas no grupo escolar. Quase todo dia era uma luta, só saia de casa quando ouvia a campainha, em três minutos estava lá, e cresci motivado em estudar, porque meu pai exigia, excelência e uma dedicação intensa.
Nas madrugadas quentes e frias minha alegria era acordar de madrugada, nos finais de semanas, para ir orar na igreja pequena da Rua Dona Cecília. Era demais para mim. Ele entrava na igreja, ia até ao banco da frente e se ajoelhava. Eu fazia o mesmo, me ajoelhava e cochilava, enquanto ele falava com o Pai. Então chegava a minha vez e eu fazia minha oração, pequena, do meu tamanho. Perdi o número de vezes que levantamos de madrugada para orar ao Pai na certeza absoluta de que os que de madrugada O buscam O encontram.
O tempo de partir chegou e fui rumo a Belo Horizonte. Aquele que tinha sido meu pai na infância e na adolescência, somente pai; é o que as crianças precisam, de um pai, não de um amigo. Ele então continuou a ser pai, mas tinha se tornado na hora certa meu melhor amigo. Nos desafios da vida, nas tribulações mais ferrenhas, nos embates das lutas, meu pai sempre se fazia presente.
Nestas linhas que escrevo ressalto alguns lampejos das memórias ricas do passado. Com estas palavras expresso a naturalidade de ser pai, enquanto poderia ter exigido que ele tivesse sido melhor e diferente, até ele menciona as coisas que poderia ter feito melhor. Para mim, porém, foi tudo perfeito e suficiente.
Eu agradeço ao Pai Celestial pelo senhor Josias. Pai melhor do mundo, eu sei, todos os filhos consideram os seus assim. Mas é verdade! Muitos podem ser para os os outros professores, políticos, profissionais, pastores, mas somente ele poderia ser meu pai. Eu não teria poderia ter outro pai, se não adotivo, só ele poderia ter sido meu, e foi, ainda é. Simplesmente pai.
Nos seus cabelos grisalhos, em seus muitos anos e décadas de vida, quando telefono, ou o vejo pelo celular ou o visito, não há nada que mais me enche o coração do que ouvir sua voz alta, bem forte e cheia de postura, perguntar: “Como vai, meu querido filho?” E eu respondo, devolvendo a pergunta, tentando imitá-lo: “Como vai, meu querido pai?”
Ele sempre se expressa: “Vai tudo bem! Vai tudo bem com a minha alma!”
Pois é! Pai! Nosso Pai Celestial sempre cuida de nós!!
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