Quando nos desesperamos da vida: Por que pessoas boas se matam? Dr. Josimar Salum
Nunca ninguém vai entender o que foi necessário para levar um ser humano em qualquer idade a intentar contra sua própria vida. E esta dinâmica se impõe mais complexa quando se trata de um pastor.
Que pensamentos incontroláveis, que sentimentos ocultos e profundos são estes, que raciocínio instaurado nesta mente, que circunstâncias tão assoladoras são estas, que disposições psicológicas supressoras e que reações químicas fisiológicas foram tão suficientes e irresistíveis para desencadear este desejo incontrolável de morrer ao ponto de se matar?
Que tribulação foi aquela que sobreveio a Paulo sobremaneira agravante mais do que podia suportar que o levou a um ponto tão baixo de até da vida se desesperar?
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos.” 2 Coríntios 1:8
Não há nenhum indício no texto nem em contexto remoto que Paulo tenha pensado em tirar sua vida! Entretanto é realmente possível viver uma angústia e uma aflição tais ao ponto de levar alguém a desesperar-se tão intensamente da vida!
Elias, o profeta do fogo, completamente estafado, descreveu este desejo de morrer com estas palavras: “E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu em seu ânimo a morte e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.” 1 Reis 19:4.
E o profeta Jonas, por um motivo bem frívolo aparentemente: “E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso, oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. Então, disse Deus a Jonas: É acaso razoável que assim te enfades por causa da aboboreira? E ele disse: É justo que me enfade a ponto de desejar a morte. Jonas 4:8-9
E Davi descreveu sua experiência com depressão profunda desta maneira: “Cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza.” Salmos 116:3
Somente alguém com um coração compassivo e misericordioso irá avaliar uma tragédia na vida de um homem e especialmente de um pastor que atentou contra a própria vida com compreensão antes de se atrever a lançá-lo no inferno como argumentação teológica.
Ninguém deve atentar contra sua própria vida nem contra a vida de ninguém. Ponto. Esta é uma decisão consciente que toda pessoa tem que tomar previamente. Antes de qualquer situação, antes de qualquer aflição, antes de qualquer acontecimento ou circunstância. Não importa o que acontecer eu jamais atentarei contra a minha vida nem contra a vida de alguém.
Mas estas tragédias tem acontecido, e cada vez mais próximas de nós. É certo que não há como ignorar mais esta realidade assustadora! Entre pastores, então, se torna incompreensível. Gera assombro mesmo! Demanda respostas! De acordo com estatísticas, nos Estados Unidos, a “profissão de pastor” tem uma das 3 principais taxas de suicídio de qualquer profissão.
ESTATÍSTICAS ASSUSTADORAS
De acordo com o site http://www.PastorBurnout.com e do jornal New York Times (2010) estes são dados preocupantes sobre o ministério profissional de pastor.
1. Pastores sofrem de obesidade, hipertensão e depressão a taxas superiores à maioria dos americanos. Na última década, o uso de antidepressivos aumentou, enquanto sua expectativa de vida caiu. Muitos gostariam de mudar de emprego se pudessem.
2. 13% dos pastores ativos são divorciados.
3. 23% foram demitidos ou pressionados a renunciar pelo menos uma vez em suas carreiras.
4. 25% não souberem a quem recorrer quando tiverem uma família ou um conflito ou problema pessoal.
5. 25% das esposas dos pastores vêem o horário de trabalho do marido como fonte de conflito.
6. 33% tiveram estafa dentro dos primeiros cinco anos de ministério.
7. 33% dizem que estar no ministério é um risco absoluto para a família.
8. 40% dos pastores e 47% dos cônjuges sofrem de estafa, horários frenéticos e ou expectativas pouco realistas.
9. 45% das esposas dos pastores dizem que o maior perigo para eles e sua família é o desgaste físico, emocional, mental e espiritual.
10. 45% dos pastores dizem que experimentaram depressão ou estafa e precisaram de uma licença do ministério.
11. 50% sentem-se incapazes de atender às necessidades do trabalho.
12. 52% dos pastores dizem que eles e seus cônjuges acreditam que estar no ministério pastoral é perigoso para o bem-estar e a saúde de sua família.
13. 56% das esposas dos pastores dizem que não têm amigos íntimos.
14. 57% deixariam o pastorado se tivessem algum outro lugar para ir ou alguma outra vocação que pudessem fazer.
15. 70% não têm amigos próximos.
16. 75% relatam estresse severo causando angústia, preocupação, perplexidade, raiva, depressão, medo e alienação.
17. 80% dos pastores afirmam ter tempo insuficiente com o cônjuge.
19. 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias.
20. 90% se sentem desqualificados ou mal preparados para o ministério.
21. 90% trabalham mais de 50 horas por semana.
22. 94% sentem-se sob pressão para ter uma família perfeita.
23. 1.500 pastores deixam seus ministérios todos os meses nos Estados Unidos devido ao esgotamento, conflito ou falha moral. Ou seja, a cada 1 hora 2 pastores deixam o “ministério” nos Estados Unidos por algum destes motivos.
Diante destas estatísticas cabe reavaliar aquilo que chamamos de ministério cristão, pois estes dados revelam uma situação totalmente adversa do que as Escrituras descrevem. As próprias palavras usadas como carreira, horário de trabalho, profissão, etc aplicam-se mais ao mercado de trabalho que a vocação ministerial. Parece-me que o hibridismo das duas coisas é fonte de grandes problemas. Senão, vejamos!
O ASSUNTO TEM A VER COMIGO
Quando estas estatísticas deixam de ser números frios, sem significado e distantes para se tornarem casos bem perto de nós, nos damos conta de que são muito cruéis e tristes. Enquanto morreu alguém em algum lugar é triste, mas não tão triste quando vemos a face relacionando-a a um nome.
Tenho estudado e escrito sobre o drama do suicídio de pastores evangélicos há alguns anos. Houveram meses em anos recentes que tive conhecimento de alguns pastores ligados à algum amigo ou conhecido que se mataram em um período bem curto. Como se fosse uma onda invisível que viesse ceifando estas vidas mesmo em lugares distantes e não estando conectados entre si. Mas o que dá significado é que as causas foram as mesmas mesmo atingindo pessoas sem nenhuma relação, senão que eram pastores evangélicos.
UMA ANÁLISE DE UM ÁUDIO QUE FOI VEICULADO FALSAMENTE COMO SENDO DE UM PASTOR QUE O TERIA DEIXADO ANTES DE MORRER.
Esta semana (15/12/2017) iniciou com uma publicação no Facebook por Bill Niconson com quem fundamos “Cornerstone Pastors Network” – Rede de Pastores Pedra de Esquina, sobre seu amigo pastor (americano) que tinha suicidado. Dois dias depois leio a notícia de dois pastores (brasileiros) que haviam atentado contra a própria vida e um deles, ao invés de deixar uma carta escrita, deixou um áudio de 15 minutos para os “membros de sua igreja”.
Semana passada mesmo atendi um rapaz cheio de vida, depois de conversar com ele sobre todos os aspectos, pude constatar que não tinha nenhuma razão para querer morrer. De fato, estava lutando contra pensamentos terríveis e em busca de socorro por receio de atentar-se contra sua própria vida. É muito fácil atribuir ao demônio tais pensamentos, sim, são possíveis e acontecem. Como uma moça que fez um pacto com “Iemanjá” e que havia determinado o dia em que iria se jogar da janela do prédio onde trabalhava, mas por misericórdia o Senhor havia me revelado deste intento e ela foi liberta. O que quero dizer é que quando alguém pede socorro não tente minimizar o que ela está experimentando, mesmo que não faça sentido. Esta pessoa precisa ser amada e socorrida com muita compreensão e não julgada com um sermão sobre pecado e culpa.
Analisando a mensagem em áudio do pastor, desejo deixar algumas considerações para seu pensamento:
1. Não adianta culpar os membros da igreja pelas suas experiências negativas no pastorado.
Todos os artigos que leio sobre o suicídio de pastores parecem responsabilizar pela maneira como são tratados pelas “ovelhas.” É como culpar o fabricante de formicida porque a pessoa o ingeriu ao invés de matar as formigas. A questão mais profunda disto é que muitas não são ovelhas. Quem mente constantemente, trai, agride, calunia e fere não é ovelha de Jesus. Ser batizado, membro de igreja, assumir liderança não é garantia de se tornar nova criatura, ser filho de Deus. Portanto, se você é pastor evangélico aceite a realidade de que não estará lidando somente com crentes verdadeiros. Não tenha uma expectativa falsa de que a sua igreja é a casa de Deus e que traição, calúnia, ódio, mentira, prostituição é coisa do mundo. Não é!
2 – O pastor não é sacerdote.
O pastor em seu áudio começa citando um texto da Torah (Lei) de como o sacerdócio Levítico era tratado. O pastor evangélico espera ser tratado da mesma maneira. Isto é alucinação. O pastor evangélico pode ate se equiparar ao sacerdote Levítico, mas o pastor do Novo Testamento não é. O sacerdócio de todos os santos foi apontado pelo sacerdócio Levítico, mas desaparece na Nova Aliança. No Antigo Testamento era uma classe, no Novo Testamento todo filho de Deus é sacerdote. Entenda, digno de dupla honra (salário) seja aquele que ensina a Palavra, porém esta distinção que eleva o pastor a uma posição acima do rebanho de Deus é perigosa. Assim é que o pastor se tornou o profissional da fé que é pago para trabalhar o máximo de horas para fazer o serviço do ministério que pertence aos santos e não à uma classe especial.
3 – O pastoreio não é individual.
O Espírito Santo constituiu bispos (homens maduros, bispos = supervisores, não tem nada a ver com posição, mas função) para pastorearem o rebanho de Deus. São bispos, no plural, para pastorearem (função coletiva) não as igrejas de Deus, mas a Igreja de Deus. A competição está aqui denunciada, que cada um pastoreia sozinho e individualmente a uma igreja específica. O pastor evangélico é sozinho e solitário, e se tem outros pastores consigo, esses estão hierarquicamente abaixo dele, então, trabalham em sua equipe, dai o isolamento natural de quem se torna chefe da equipe. A natureza do ministério se tornou profissional e cada igreja uma pequena empresa. Não que seja considerada assim, mas é administrada como tal. Este conflito torna-se massacrante pois se deseja a liberdade do ministério de Cristo, porém engessado pela estrutura organizacional. E em determinadas estruturas denominacionais o pastor não é pressionado pelos membros que podem demiti-lo em assembleia ou pelo conselho ou diretoria, mas pelo Bispo (superior aos pastores locais), pelo superintendente, presbitério regional ou na pior das estruturas pelo Presidente ou Apóstolo!
4 – A posição pastoral traz isolamento.
O pastor evangélico não pode se relacionar abertamente com suas “ovelhas” porque não pode perder sua autoridade. No ambiente eclesiástico muita intimidade mina a autoridade. Outro problema sério, porque o pastor neo-testamentário com outros pastores, pastoreiam as ovelhas de Jesus, coletivamente e não individualmente. O pastor evangélico se vê na obrigação de abençoar, orar, aconselhar, batizar, casar, visitar, enfim, fazer a obra do ministério que segundo Efésios 4 não compete a ele, mas aos santos.
O pastor evangélico não pode se relacionar com outros pastores, especialmente da sua cidade, porque são competidores. Cada um trabalha para o aumento de sua igreja mesmo que seja com membros vindos das outras. Esta é a maior área de atrito entre pastores. O pastor vê o outro “colega de ministério”, muito além do que é, irmão em Cristo. E mesmo assim, irmão em Cristo de “outra” igreja.
Todas estas dinâmicas empurram o pastor evangélico ao isolamento. Toda esta estrutura está distante da Igreja do Novo Testamento.
5 – A igreja é tua amante.
A esposa de um pastor, amigo bem chegado, o chamou para uma conversa. “Eu não aguento mais. Você tem uma amante.” O pastor irritado retrucou. “Como você pode dizer isto, meu amor? Sempre fui fiel a você!” Ela explicou: “Sua amante é a igreja.” Sim, ele não dedicava nenhum tempo a família. Todos os recursos que tinha ele gastava praticamente com a igreja. Pai ausente! Marido ausente! Sua vida era a igreja. Quem não leu esta lista? Primeiro, Deus. Depois a família, em terceiro lugar a Igreja. Que engano! Quem busca o Reino de Deus e a Sua Justiça, não carece de lista de prioridades. Segue a Justiça. Quem tem o Senhor como tudo segue Seu ensino naturalmente vivendo a família e o “ministério”, no seu devido lugar. Demorei a entender isto. Vivia “departamentalizando” e lidando com estas coisas em blocos ao invés de tratá-las naturalmente baseadas em relacionamentos ao invés de em prestação de serviços.
Descobri isto também com muitas dores. E muitos pastores com os quais tenho conversado em aconselhamento estão extremante frustrados com suas vidas “ministeriais.” É possível conciliar a “igreja” com a família, mas é impossível atender esta estrutura eclesiástica pois compete com a família. Dentro destas estruturas eclesiásticas, confesso que de cada 100 pastores evangélicos que conheço e aconselho apenas 2 fazem isto com sucesso. Destes 100 pastores apenas 10 apresentam um quadro de saúde estável. Irmãos, não fiquem zangados comigo, mas este não é o Ministério de Cristo.
Paulo teve experiências terríveis na Ásia, chegando ao ponto de se desesperar da vida, mas nunca perdeu a alegria de servir a Jesus. Se o ministério lhe roubou a alegria, deixou de ser o Ministério de Cristo.
“E, logo que chegaram junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram;
Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E, agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o Reino de Deus, não vereis mais o meu rosto.” Atos 20:18-19, 24-25
6 – A pregação não é o Reino de Deus.
O Evangelho tem que ser da Graça de Deus. A pregação tem que ser o Reino. A maior frustração do pastor evangélico e isto gera grande frustração no meio do povo é que a pregação, o ensino e as práticas de igreja honestamente não dão os resultados esperados. O Evangelho de Cristo não tem como encaixar nas estruturas eclesiásticas vigentes. Como não é possível, para gerar resultados e estes sempre medidos em números os métodos, as pregações e as práticas ministeriais precisam ser “mundanizadas”. O cerne da matéria é a Mensagem. A Semente, a Palavra do Reino, não poderá ser contida neste ambiente. O que adoece o pastor é o hibridismo que o cerca: o Evangelho com a tradição humana; o Evangelho com a mensagem humanista; o Evangelho com a mensagem de resultados; a Vocação ministerial com a profissão pastoral e outros.
Shows, eventos, estruturas de serviços, marketing, enfim, todos os dispositivos que se usam no mundo corporativo foram adaptados na igreja. Esta igreja que comporta tudo isto não é a Igreja, e como não é a Igreja nunca irá realizar e satisfazer o Ministro de Cristo. O pastor torna-se um executivo, com plano de metas a cumprir, se torna um empregado medido pelos seus resultados. O Ministro de Cristo que é todo filho de Deus se tornou clero e isto não tem nada a ver com o Reino de Deus. Esta igreja não é a Igreja de Deus. Como não conseguem entender e mesmo aceitar isto, acabam se frustrando. Numa outra estatística, são mais de 70% dos pastores que gostariam de ser qualquer coisa menos pastor. De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”.
7 – A síndrome de super homem.
Quantas vezes pastores ao serem indagados como vão me responderam: “Estamos em vitória, campeão! Estamos vencendo em tudo.” E contavam seus testemunhos das grandes conquistas que estavam tendo e não apresentavam sinais de não terem nenhum problema. Não tinham necessidades algumas. Nunca pediram oração para nada, mesmo muitos deles estarem “sobrando” problemas em casa, na igreja e alguns até com pecados ocultos. Eu me perguntava: “Será que eles vivem em outro planeta?” Quão difícil é um pastor evangélico abrir o coração para contar um problema ou uma dificuldade. E o pior é que a maioria deles não tem sequer um amigo em que possam confidenciar suas tentações. Sempre tive dois ou três amigos bem chegados em que pudesse abrir meu coração e contar tudo. Tudo! Não sou super homem!
8 – Não é pecado descansar e distrair.
11 horas da manhã o telefone tocou. Com a voz embargada atendi. “Pastor, está dormindo até agora?”, perguntou o irmão com voz “criminalizadora”. “Sim, infeliz, acordei agora porque fiquei aconselhando até 2 da manhã um casal que tinha brigado!” Claro que não disse a palavra infeliz. Claro que errei em justificar o motivo de estar dormindo até 11 da manhã. Aliás, não é incomum estes abençoados decidirem brigar sempre depois das 10 da noite e nos ligar pedindo socorro! Será que não dava para brigarem mais cedo?
O pastor precisa aprender a curtir a vida. Precisa dar gargalhadas. O pastor precisa se divertir. O pastor precisa descansar. Parar de viver condicionado somente à igreja! Como é difícil entender isto! Não estou falando em férias de tempos em tempos, mas de descansar periodicamente. Sair com amigos para almoçar, bater papo furado. Marcos Aurélio e eu temos este relacionamento. Quantas vezes um liga para o outro e diz. “Vamos almoçar hoje?” Só que vivemos uns 80 km de distância! Quantas vezes saio de carro e ligo: “Estou a caminho, indo almoçar contigo.” E vice versa! Com Amarildo, às vezes almoçamos três vezes na semana. Com Carlos Boaventura, que mora longe! Ele sai de Fall River só para almoçarmos em Worcester onde vivo. E tantos outros! Quando temos problemas Cristina e eu ligamos para Marcos e Giselia! E vice versa!
Um dia fomos almoçar com alguns pastores. Coincidentemente Marcos tinha vindo a Worcester e estes pastores já tinham marcado comigo. Na mesa o assunto para variar era “igreja.” Meu Deus, será que este povo não sabe conversar sobre outra coisa. Não sabem falar outra coisa senão igreja. Distrair, descansar e mudar de assunto, é preciso!
9 – Saude física.
Alimentação saudável, exercícios físicos, prática de algum esporte. Isto devia ser básico. Ministério não é escravidão. Manter a saúde é para quem tem saúde. Não se mantém o que não tem. Ao contrário, mais hábitos alimentares são a dieta da maioria dos pastores que conheço. Pastores que saem para jantar meia noite. Quantas vezes fiz isto.
Mas, em Agosto de 2016 fiz um retiro de oração para buscar a Deus uma direção para minha vida sobre este assunto. Um casal de filhos me ofereceu dois dias em um hotel em Vermont. Sai de lá com uma lista de 7 alvos:
1) Alimentar saudavelmente.
2) Exercitar corporalmente
3) Estar a sós com Deus
4) Estudar com diligência – tudo, não somente as Escrituras
5) Trabalhar disciplinadamente
6) Fazer companhia a família
7) Ter com amigos e irmãos.
Pensa que sigo isto a ferro e fogo? Não. Tendo falhado em algumas delas. Mas vamos ajustando, avançando e perseguindo sem culpa.
10 – Depressão não é pecado
Este é o principal pensamento deste artigo. É possível sofrer de depressão de tempos em tempos. É possível ter algumas deficiências químicas no organismo que podem produzir depressão. É normal na vida sofrer decepções, frustrações, traições e muita tribulação. Mas é normal também as alegrias, as recompensas, as vitórias, as celebrações. A noite pode ser longa, mas sempre amanhece. As lutas podem durar muito, mas sempre passam. Nunca estamos sozinhos. Podemos nos sentir sozinhos, mas nunca estamos sós. O Senhor está comigo entre aqueles que me ajudam. Tudo passa. Tudo passa. Tudo passa.
Mas o principal é admitir que somos seres sujeitos à fraquezas. Não é dizer apenas: “Afinal, ninguém é perfeito. Todo mundo erra.” É preciso admitir, assimilar e dizer: “Eu não sou perfeito. Eu erro.”
Não é que pastor não erra. Não é tentado. Não falha. Eu erro. Eu sou tentado. Eu falho. Quando assumirmos esta realidade estas coisas deixarão de ser fatalidades.
Um dos textos mais “humanizantes” das Escrituras é este: “Elias, homem sujeito às mesmas paixões que nós.”
E este texto de Isaias que revela a humanização extrema de Jesus que reputamos por aflito e ferido de Deus, porque assumiu exatamente nossas enfermidades e dores. E não há dor pior e mais cruel do que a dor da angústia! Porque o câncer aparece no raio x; a anemia é acusada no exame de sangue, a pneumonia é uma mancha no pulmão, mas a angústia não pode ser detectada nem numa ressonância magnética.
“Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados.” Isaías 53:4-5
Não foi o que Jesus disse? “E disse-lhes: A minha alma está profundamente angustiada até a morte; ficai aqui e vigiai.” Marcos 14:34
NINGUÉM DECIDE SE MATAR NUM INSTANTE.
Considerando todas estas coisas, tendo estudado e lido tudo quanto é literatura sobre depressão, angústia e suicídio, é bem fácil para quem nunca sofreu estas coisas fazer uma lista das causas que levam uma pessoa a usar este extremo e violento artifício de terminar com a própria vida.
Ninguém toma uma decisão destas em um instante. Existe uma caminhada anterior e algumas longas ponderações e uma série de decisões, concessões e rupturas que alguém vence antes de consumar esta fatalidade.
É preciso considerar o sentimento de impotência, de frustração e até de culpa de uma esposa, de um filho e até de amigos ao assumirem que poderiam ter evitado o suicídio daquela pessoa querida. Mas não puderam.
Uma coisa precisa ser enfatizada. Não é honesto uma pessoa deixar uma carta e um áudio culpando os que sobreviveram por mais que possam ter feito qualquer coisa para esta pessoa se sentir justificada a tirar a sua vida.
Cada um é responsável pela sua própria vida.
E a premissa para você não decidir tirar a sua vida é que você não tem o direito de infringir sobre os outros a dor de viver sem a sua presença na vida deles.
Se você está sentindo mal e pensando em tirar sua vida, fale com alguém. Não é preciso ser teu chegado, talvez você nem tenha alguém assim, mas fale com alguém!
MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL
Desde criança sofro com depressões periódicas. Podem passar anos sem se manifestar como podem se apresentar frequentes. De acordo com a medicina tenho deficiência orgânica de balancear a serotonina no organismo e de produzir oxitocina que é o “hormônio da felicidade”. Debaixo de extremo estresse, ondas de angústia e depressão sem motivos aparentes podem sucumbir a minha alma e debilitar meu interior.
Estas experiências podem durar meses ou podem se manifestar durante o dia, com variações frequentes de humor. Pensamentos ruins já povoaram a minha mente em algumas ocasiões, embora nunca tenha tomado nenhuma medida drástica para terminar com minha vida. Deus muitas vezes me livrou de situações em que poderia colocar em risco a minha integridade física. Em algumas situações pude sentir uma luta espiritual além de mim mesmo, especialmente quando estava prestes a realizar alguma coisa de impacto para o Reino de Deus. Não querendo espiritualizar o assunto, muitas destas experiências estavam intimamente ligadas com alguma missão iminente como foi a que sofri por três meses antes de viajar para Burúndi, África (2017) Foi como se tivesse vivido em meu quarto o que iria presenciar meses depois entre aqueles povos.
O que quero dizer? Eu sei o que uma pessoa sente quando pensa em morrer. Eu sei as lutas internas e diálogos consigo mesmas que estas pessoas travam antes de tomarem uma decisão, pior ainda, quando agem. Meu amigo Eliel Pinheiro presenciou assustado, algumas destas situações de angústias inconcebíveis que passei. E outros amigos que me visitaram e socorreram minha família também viram de perto!
COMO AJUDAR ALGUÉM EM DEPRESSÃO E QUE ESTÁ CONSIDERANDO PENSAMENTOS SUICIDAS
1. Não julgue a pessoa.
2. Não tente arguir com a possibilidade de pecado. Lembra que sempre há um ou outro pecado sendo praticado por qualquer um de nós. O problema não é pecado. Porque tem gente vivendo em pecado e tudo o que não querem é morrer.
3. Não subestime o que a pessoa está passando, seus sentimentos, suas motivações. Pode não ter nenhum significado para você, mas o que ela está experimentando é real.
4. Não fale muito. Fique em silêncio com a pessoa quanto tempo você puder.
5. Gestos positivos e afetos são mais poderosos que palavras.
6. Leia a Bíblia para a pessoa, mas textos bem pequenos de conforto, sobre graça, e não de tragédias, lutas, juízos e pecados. Ler sobre Judas Iscariotes é combustível para seu pensamento doentio.
7. Não leve a pessoa a pensar na eternidade. O problema dela não é a eternidade, mas a existência. Para a pessoa o inferno seria melhor que a sua presente vida aqui. Ela precisa de uma pequenina esperança mesmo que seja para viver até o final do dia. Uma pessoa que deseja morrer perdeu o sentido de viver, seu propósito e não tem esperança. Acenda uma pequena luz de esperança, mesmo que seja para um dia. Não se canse de acompanhar. Mesmo que seja com um telefonema. É extremante cansativo e desgastante ajudar pessoas em depressão profunda.
8. A pessoa precisa de assistência psiquiátrica e psicológica mais que assistência espiritual. Psiquiatra não é médico de louco. Este preconceito é nutrido somente por gente muito ignorante. Existem medicamentos que ajudam. Terapia é muito importante, por profissionais (psicanalistas ou psicólogos) lúcidos e equilibrados. Assistência de médico clínico para análise de escassez ou presença de determinadas vitaminas, hormônios e substâncias químicas no organismo são igualmente essenciais. Tratamentos alternativos naturais ajudam demais. Especialmente uma alimentação robusta natural.
9. Não adianta muito fazer a pessoa a pensar no cônjuge, nos filhos e nos amigos. Ela está extremamente egotista. Não acredite que ela queira morrer por causa dos outros. Ninguém morre por causa de ninguém. Só Jesus fez isto. Por causa dos outros, só vivendo.
10. O apoio e presença da família são cruciais. Uma das manifestações de carinho que mais me ajudou quando tive a crise de depressão foi de meu filho, sua esposa e netos, e especialmente de minha esposa.
É meu desejo sincero que este ensaio possa ajudar de alguma forma elucidar alguns caminhos e trazer luzes sobre este tema tão relevante. Por que pessoas boas suicidam!
Nenhum comentário:
Postar um comentário