O AVIVAMENTO NA UNIVERSIDADE ASBURY
Josimar Salum
O que ocorreu na Asbury University, em fevereiro de 2023, despertou atenção mundial e reacendeu debates antigos sobre avivamento, despertar espiritual e a autenticidade dos movimentos que surgem fora do controle institucional.
Muitos tentaram rotular o acontecimento, mas a pergunta essencial permanece bíblica: como as Escrituras discernem um mover dessa natureza?
O que aconteceu em Asbury
No dia 8 de fevereiro de 2023, um culto regular de capela não foi encerrado no horário habitual. Após a programação oficial, alguns estudantes permaneceram no auditório em oração, adoração simples, leitura das Escrituras e confissão de pecados.
O que começou de forma discreta se estendeu espontaneamente por cerca de dezesseis dias, com reuniões contínuas, atraindo milhares de pessoas de diferentes regiões e denominações. Não houve agenda prévia, pregadores famosos, campanhas organizadas ou apelos financeiros. A condução foi marcada por simplicidade, liderança mínima e centralidade em Jesus e na Palavra.
Como a Bíblia avalia um avivamento
As Escrituras não apresentam avivamento como um evento planejado, mas como uma visitação de Deus que produz arrependimento, obediência e fruto contínuo. O padrão bíblico inclui conversão genuína, retorno à Palavra, exaltação exclusiva de Jesus, liberdade sem manipulação e transformação que permanece.
À luz desses critérios, o início do que ocorreu em Asbury não contradiz o testemunho bíblico. Houve sinais claros de quebrantamento, confissão e busca sincera de Deus. Contudo, a própria Escritura ensina que o verdadeiro teste não está no início do mover, mas na sua continuidade e nos frutos que permanecem ao longo do tempo.
Paralelos bíblicos nas Escrituras
Movimentos semelhantes aparecem repetidamente na Bíblia sem serem chamados de eventos especiais.
Em Atos 2, a perseverança na doutrina, na comunhão, no partir do pão e nas orações define um modo de vida, não um momento isolado.
Em Neemias 8 e 9, a leitura da Palavra gera entendimento, arrependimento e mudança prática.
Em Atos 19, em Éfeso, a confissão pública e a renúncia ao pecado produzem impacto social visível.
Em João 4, um encontro genuíno resulta em testemunho que alcança toda uma cidade. Em todos esses casos, a marca do agir de Deus não é a duração das reuniões, mas a transformação que segue.
Frutos observáveis após o acontecimento
Após o encerramento das reuniões em Asbury, diversos frutos positivos foram relatados. Muitos testemunharam reconciliações pessoais, restauração de relacionamentos e uma vida de oração mais consistente. Pequenos grupos focados na Palavra surgiram, e houve um retorno à simplicidade do discipulado e do serviço.
Ao mesmo tempo, também se observaram limites claros. Parte das pessoas buscou a experiência em si, e não a obediência diária. Houve tentativas externas de reproduzir o ambiente sem o conteúdo espiritual que lhe deu origem. Esses limites não invalidam o mover, mas confirmam o ensino bíblico de que nem toda semente frutifica da mesma forma.
Asbury 1970 e Asbury 2023
A história da universidade registra outros momentos semelhantes, especialmente o ocorrido em 1970. Naquele período, o mover gerou forte impacto missionário, vocações duradouras e expansão para outras universidades.
Em 2023, a ênfase foi mais interna, marcada por arrependimento, adoração simples e correção espiritual, com grande alcance por meio das redes digitais.
Ambos os momentos apresentam coerência bíblica, ainda que com propósitos e ênfases diferentes. Deus não repete métodos, mas cumpre Seus desígnios conforme o tempo e a necessidade.
Universidades e o padrão do Novo Testamento
Embora o Novo Testamento não descreva universidades formais, ele revela que Deus frequentemente inicia movimentos em ambientes de formação intelectual e espiritual.
Jerusalém, Atenas, Tarso e Éfeso foram centros de ensino e debate.
Em Atos 19, Paulo ensinava diariamente na escola de Tirano, e toda a região foi alcançada pela Palavra. O padrão bíblico mostra que a formação precede a expansão. À luz disso, não é estranho que um mover surja em um campus universitário; o discernimento necessário está em observar para onde esse mover conduz.
Ekklesia e o risco da institucionalização
O maior risco após qualquer visitação de Deus não é a oposição externa, mas a institucionalização interna.
Esse desvio começa quando o ambiente substitui o arrependimento, quando a experiência ocupa o lugar da obediência e quando o controle humano tenta assumir a condução do Espírito.
As estruturas podem servir ao povo de Deus, mas nunca são fundacionais. A Ekklesia permanece viva quando persevera na Palavra e na obediência diária, não quando tenta preservar uma chama por meios organizacionais.
O papel dos líderes
Em tempos de visitação, o papel dos líderes não é produzir o mover nem monopolizá-lo, mas discernir e guardar o fruto. Isso exige resistir à espetacularização, proteger a supremacia de Jesus e conduzir o povo ao caminho estreito da obediência cotidiana.
O verdadeiro cuidado pastoral consiste em redirecionar a chama para a vida prática, para a família, para o trabalho e para o testemunho fiel no mundo.
Conclusão
O que ocorreu na Universidade Asbury pode ser compreendido biblicamente como uma visitação corretiva, um chamado ao arrependimento, à simplicidade e à supremacia da Palavra.
Foi um mostra de como o Reino se manifesta: não por estruturas, mas por corações quebrantados que permanecem em Cristo.
Deus visita soberanamente, a Ekklesia responde com arrependimento, e a permanência se revela na obediência.
Se essa resposta continuar, o que foi um momento se tornará vida; se não, permanecerá apenas como memória.
#ASONE

Nenhum comentário:
Postar um comentário